sábado, 23 de maio de 2009

João Candido- O Almirante Negro



João Candido
Primeiro Herói Brasileiro do Século XX


Nascido na então Província do Rio Grande do Sul, no município de Encruzilhada do Sul, que havia sido distrito de Rio Pardo, filho dos ex-escravos João Felisberto Cândido e Inácia Felisberto, apresentou-se na Escola de Aprendizes Marinheiros com uma recomendação de "atenção especial", aos cuidados do Delegado da Capitania dos Portos em Porto Alegre. Esta recomendação deveu-se à iniciativa de um velho amigo e protetor de Rio Pardo, o então capitão de fragata Alexandrino de Alencar, que o encaminhara àquela escola.

Desse modo, numa época em que a maioria dos aprendizes era recrutada pela polícia, João Cândido alistou-se com o número 40 na Marinha do Brasil (1894), aos 13 anos de idade, ingressando como grumete a 10 de dezembro de 1895, fazendo a sua primeira viagem como Aprendiz de Marinheiro[1].

Em 1908, para acompanhar o final da construção de navios de guerra encomendados pelo governo brasileiro, João Cândido foi enviado para a Inglaterra, onde tomou conhecimento do movimento realizado pelos marinheiros britânicos entre 1903 e 1906, reivindicando melhores condições de trabalho.

O movimento dos marinheiros da Armada

O uso da chibata como castigo na Armada brasileira já havia sido abolido em um dos primeiros atos do regime republicano, o decreto número 2, de 16 de Novembro de 1889, assinado pelo então presidente marechal Deodoro da Fonseca. Todavia, o castigo cruel continuava de fato a ser aplicado, a critério dos oficiais. Num contingente de 90% de negros e mulatos, centenas de marujos continuavam a ter seus corpos retalhados pela chibata, como no tempo da escravidão. Entre os marinheiros, insatisfeitos com os baixos soldos, com a má alimentação e, principalmente, com os degradantes castigos corporais, crescia o clima de tensão.

Ainda na Grã-Bretanha, e depois, ao retornarem ao Brasil, os marinheiros que lá estiveram para acompanhar a construção dos encouraçados Minas Gerais e São Paulo, iniciaram um movimento conspiratório com vistas a tomar uma atitude mais efetiva no sentido de acabar com a Chibata na Marinha de Guerra.

As eleições presidenciais de 1910, embora vencidas pelo candidato situacionista marechal Hermes da Fonseca, expressaram o descontentamento da sociedade com o regime vigente. O candidato oposicionista, Rui Barbosa, realizou intensa campanha eleitoral, reforçando a esperança de transformações do povo brasileiro.

Esgotadas as tentativas pacíficas e propositivas dos marinheiros, incluindo uma audiência de João Cândido no Gabinete do presidente anterior, Nilo Peçanha, os marinheiros decidiram que iriam fazer um motim pelo fim do uso da chibata em 25 de Novembro de 1910.

Entretanto, em 16 de novembro, um dia após a posse do marechal Hermes da Fonseca, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes foi punido com 250 chibatadas, que não se interromperam nem mesmo com o desmaio do mesmo, conforme noticiado pelos jornais da época, aplicadas na presença de toda a tripulação do Encouraçado Minas Gerais, nau capitânea da Armada. Este fato antecipou a data programada para o motim, de 25 para 22 de Novembro de 1910.

Revolta da Chibata

No dia 22 de novembro de 1910, João Cândido deu início ao levante, assumindo o comando do Minas Gerais, pleiteando a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra brasileira. Foi designado à época, pela imprensa, como Almirante Negro. Por quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram os seus canhões para a Capital Federal. No ultimato dirigido ao Presidente Hermes da Fonseca, os revoltosos declararam: "Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira". Embora a rebelião tenha terminado com o compromisso do governo federal em acabar com o emprego da chibata na Marinha e de conceder anistia aos revoltosos, João Cândido e os demais implicados foram detidos.

Expulsão da Marinha

Pouco tempo depois, a eclosão de um novo levante entre os marinheiros, agora no quartel da ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 9 de Dezembro de 1910, foi reprimida pelas autoridades.

Apesar de não haver participado deste levante, João Cândido foi expulso da Marinha, sob a acusação de ter favorecido os rebeldes. Em Abril de 1911 foi detido no Hospital dos Alienados, como louco e indigente, de onde foi solto em 1912, absolvido das acusações juntamente com os seus companheiros. À época, o seu defensor foi o rábula Evaristo de Moraes, contratado pela Ordem de Nossa Senhora do Rosário e dos Homens Pretos, que declinou o recebimento dos honorários que lhe eram devidos.

Banido da Marinha, João Cândido sofreu grandes privações, vivendo precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro.

De acordo com a sua ficha, nos quinze anos em que permaneceu na Marinha, foi castigado em nove ocasiões, preso entre dois a quatro dias em celas solitárias "a pão e água", além de ter sido duas vezes rebaixado de cabo a marinheiro. A sua ficha registra ainda dez elogios por bom comportamento, o último três meses antes da revolta.

A sua vida pessoal foi profundamente abalada pelo suicídio de sua segunda esposa (1928). Em 1930 foi novamente detido, acusado de subversão.

Adesão ao Integralismo

Em 1933 foi convidado e aderiu à Ação Integralista Brasileira[2][3], movimento nacionalista de direita inspirado no fascismo italiano fundado em 1932 pelo escritor Plínio Salgado, chegando a ser o líder do núcleo integralista de Gamboa, no Rio de Janeiro. Em entrevista gravada em 1968, João Cândido declarou manter sua amizade com Plínio Salgado e de ter orgulho em ter sido integralista, o que está evidenciado na entrevista que concedeu ao médico-historiador Hélio Silva e que se encontra arquivada no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Rio de Janeiro.

Em 1959 voltou ao Sul do País para ser homenageado, mas a cerimônia foi suspensa por interferência da Marinha do Brasil.

Falecimento

Discriminado e perseguido até ao fim de sua vida, se recolheu no município de São João de Meriti, onde veio a defalecer de câncer no Hospital Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, pobre e esquecido, em 1969, aos 89 anos de idade.

Legado, homenagens e resgates

A sua memória foi resgatada na década de 1970 pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc, no samba "O mestre-sala dos mares".

Em outubro de 2005, o deputado nacionalista Elimar Máximo Damasceno (PRONA/SP) apresentou o projeto de lei n. 5874/05, determinando inscrever o nome de João Cândido no "Livro dos Heróis da Pátria", que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF).

Em Setembro de 2007, faleceu, aos 82 anos de idade, Zeelândia Cândido, filha mais nova de João Cândido, que dedicou a vida a obter a reintegração do nome de seu pai à Marinha, corporação de onde saiu sem quaisquer direitos.

Em 22 de Novembro de 2007 (aniversário de 97 anos da Revolta), foi inaugurada uma estátua em homenagem ao "Almirante Negro", nos jardins do Museu da República, antigo Palácio do Catete, bombardeado durante a revolta. A estátua, de corpo inteiro, de João Cândido com o leme em suas mãos, foi afixada de frente para o mar. Como parte da solenidade, que teve a presença de autoridades, familiares e representantes dos movimentos sociais, foi exibido o filme Memórias da Chibata, de Marcos Manhães Marins, e feita uma exposição fotográfica da Revolta da Chibata, sob a curadoria do cientista político e juiz de direito João Batista Damasceno.

Em 24 de julho de 2008, 39 anos depois da morte de João Cândido Felisberto, publicou-se, no Diário Oficial da União, a Lei Nº 11.756 que concedeu anistia[4] ao líder da Revolta da Chibata e a seus companheiros, idéia que partiu do Senado Federal e foi aprovada pela Câmara dos Deputados, em 13 de maio de 2008, dia em que se comemora a Abolição da Escravatura no Brasil.

No entanto, a lei foi vetada na parte em que determinava a reintegração de João Cândido à Marinha do Brasil. O motivo do veto é que esse reabilitação "post mortem" importaria em impacto orçamentário para o qual a lei não apontou a referida fonte de custeio. Assim, uma vez que tal reconhecimento imporia à União o pagamento dos soldos atrasados e das promoções que lhe seriam devidas, bem como na concessão de aposentadoria e pensão aos seus dependentes, nesse particular a lei foi vetada por ser contrária ao interesse público, no julgamento da equipe do governo federal.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

FILME: MEMÓRIAS DA CHIBATA

Sinopse
MEMÓRIAS DA CHIBATA
Diretor: Marcos Manhães
Ano: 2005
Juca, um menino negro de 7 anos que vende balas na rua, vê seus amigos e sua mãe apanharem de seu padrasto sem nada poder fazer, mas um dia, na favela onde mora, sua avó lhe revela que ele é bisneto do líder da Revolta da Chibata, João Cândido, e inspirado por estas memórias , o menino toma uma atitude radical que pode mudar o rumo de sua vida.

classificação etária: 12 anos

Projeto recebeu Prêmio no Concurso Público do Ministério da Cultura

Prêmio de MELHOR CURTA-METRAGEM de ficção do 15º DIVERCINE - Uruguai

Prêmio de MELHOR ROTEIRO no 4º CINEAMAZÔNIA

Prêmio de MELHOR ATRIZ para Léa Garcia na 33ª Jornada da Bahia

João Cândido, da Revolta da
Chibata, pode virar herói da pátria


O líder da Revolta da Chibata de 1910, João Cândido Felisberto, poderá ter seu nome incluído no Livro dos Heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Liberdade e da Democracia, na praça dos Três Poderes, em Brasília.

Surpreendentemente, a iniciativa não veio das forças de esquerda no Parlamento, nem do Rio de Janeiro, onde João Cândido viveu até os 89 anos de idade, reverenciado como uma espécie de herói popular. O Projeto de Lei 5874/05 foi apresentado pelo deputado Elimar Máximo Damasceno (Prona-SP).

A Revolta da Chibata ocorreu em unidades da Marinha de Guerra brasileira baseadas no Rio de Janeiro, em novembro de 1910. Os marinheiros tomaram os principais navios da Armada, em protesto contra suas condições de trabalho, os alimentos estragados que lhes eram oferecidos, os trabalhos pesados que lhes eram impostos e principalmente o costume degradante da do castigo da chibata, herança da escravidão.

"Na época, a Marinha brasileira estava dentre as mais fortes do mundo. Já o tratamento dos marinheiros repetia as piores tradições. João Cândido, filho de escravos, liderou a revolta pela dignidade humana em nossa Marinha e em nosso país", argumentou Damasceno.

"O Almirante Negro"

Os marinheiros tinham contato com o movimento operário e os partidos marxistas da Europa, onde iam acompanhar as fases finais de construção dos navios adquiridos pela Marinha de Guerra. O próprio João Cândido, como marinheiro de 1ª classe, seguiu para a Europa, onde assistiu ao final da construção do encouraçado Minas Gerais. Assim, a rebelião foi cuidadosamente preparada, inclusive com comitês clandestinos em cadabelonave.

A revolta teve início na madrugada de 23 de novembro de 1910, em resposta ao castigo de 250 chibatadas sofrido pelo marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes. Sob o comando de João Cândido, amotinaram-se as tripulações dos encouraçados Minas Gerais e São Paulo e também dos cruzadores Barroso e Bahia, reunindo mais de dois mil revoltosos.

A cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, foi mantida por cinco dias sob a mira de canhões. João Cândido recebeu então o apelido de "o Almirante Negro", pela maestria com que comandou a frota em evoluções depa Baía da Guanabara.

O então presidente da República, Hermes da Fonseca, não encontrou saída que não fosse ceder às exigências dos marinheiros. "No dia 25 de novembro, o Congresso, apressadamente, aprovou as reivindicações dos marujos, incluindo a anistia. João Cândido, confiando nessa decisão, resolveu encerrar a rebelião, recolhendo as bandeiras vermelhas dos mastros", conta o autor da proposta.

A revanche da reação

Três dias depois, porém, veio a traição. O então ministro da Marinha determinou a expulsão dos líderes do movimento. Os marinheiros tentaram reagir, mas o governo lançou violenta repressão que culminou com dezenas de mortes, centenas de deportações e a prisão de João Cândido. "O Almirante Negro" foi colocado numa masmorra da Ilha das Cobras de onde foi o único a sair vivo, de 18 marinheiros.

Solto anos depois, João Cândido passou a viver como vendedor de peixes na Praça Quinze, Rio de Janeiro. "Morreu em 1969, sem patente e na miséria. Agora é hora de a nação honrá-lo, inscrevendo seu nome no livro dos heróis da pátria", defendeu Damasceno.

Tramitação

O projeto tramita em caráter conclusivo e será examinado pelas comissões de Educação e Cultura; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Com informações
da Agência Câmara




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